domingo, dezembro 27, 2009

Não pedi que te cruzasses comigo, que me devolvesses o sorriso ingénuo.
Não pedi que me envolvesses numa melodia sem coro, só a duas vozes.
Não pedi que me desligasses do mundo, que me centrasses em ti e no que a ti te circunda.
Não pedi que me escrevesses em abreviaturas, num diálogo monossilábico, insípido.
Não pedi que o teu gesto fosse algo intemporal, em câmara lenta.
Não te pedi um filme, um livro, um acto de contrição.
Não te pedi nada enquanto tudo o que te pedi não cabe nestas linhas desesperadas por cor.
Não te pedi um pesadelo disfarçado de sonho, em constante repetição, em cartaz de cinema.
Não te pedi o tempo, o teu tempo, o meu tempo, o tempo que de nós nada tem.
Não te pedi a metáfora. Não te pedi o o verso. Não te pedi a inspiração.
Não te pedi o retrato, o reflexo, a solidão dos abraços por dar.
Não te pedi. E julgo que não te perdi.
Espero encontrar-me, só não sei onde nem quando.

terça-feira, dezembro 22, 2009

Na ponta do cigarro me sustenho
Na incandescência da expectativa e do fumo...

terça-feira, dezembro 15, 2009

Sempre distorci a realidade, não por querer ou por gostar,
Mas porque é nesse jogo de sucessivas desconstruções e construções
Que me vou assimilando e me soletro em entendimento.
Nunca percebi o quadro de reflexos miméticos no espelho da alma,
Do corpo, do ser, sem o transformar numa dança esquizofrénica e caleidoscópica
De sucessivas imagens desfiguradas.
Também te descontruo, não por querer ou por gostar,
Mas para que te tornes espaço em mim... e eu em ti... nesse pronome
Que conjuga um verbo que de tão regular se torna irregularmente inconjugável.
Faz frio... aconchega-me no teu reparo pausado para que o contorne,
Na tremura do solstício.
Acomodo-me sobre mim, num gesto mimético prematuro por saber que a noite fria e escura
É o puro reflexo da criatura que se nega a fazer frente ao próprio ser
Que renasce a cada expiração carbonatada, em partículas de fumo que suspiramos.