segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Como vem sendo hábito, a pausa apanha-me desprevenido,
E é no fumo que me encontras.
A música embala-me os pensamentos recônditos,
Este momento de solidão é meu, em tons perversos e egoístas
Com os quais ouso pavimentar os trilhos até ao meu finito.
No finito em que te contorno, atrevo-me a descrever-te por figuras de estilo,
A forma onírica de te ter, já que em suspiros e pictogramas não me contento.
Se ao de leve me preenches espaços jamais habitados, também os quadros
Com que te decoras ficam ao meu critério, pareces alheio a tudo o que me circunda.
Não são gestos fumados que te trazem até ao circunscrito círculo, pentagrama desfigurado,
Tens pavor aos números, à lógica e ao ritmo controlado dos versos
Com que arrisquei compôr-te, qual poeta em carne viva, ferida aberta picotada por agulhas,
O sangue a circundar um nome proibido.
Aguardo respostas para questões que nem ouso murmurar.

sábado, janeiro 16, 2010

Recordo-me do dia em que a chuva não me impediu de enfrentar o desconhecido,
Senti que a hora se propagava com mais lentidão, à luz de um estado próximo do hipnótico.
Mesmo sem rede, arrisquei atravessar o arame, numa dança sem sentido,
Tal como a música que devoras e vomitas em pedaços de disco riscado.
Fazias desenhos a carvão, amnésias de outrora ali retratadas,
Ponteados a saliva e a escamas de uma pele gasta de ilusão.
O cenário hipotético elaborado apenas do outro lado do muro,
Montanhas decapitadas e um ser sem vísceras, desesperado pela luz,
Na procura angustiante do rio de sangue, a nascente do enigma,
A voz a suspirar-lhe no braço, a sombra,
A sombra,
A sombra,
A desfalecer num holograma de corpos cavernosos,
Na direcção oposta ao regurgitar da alma que o abandona.