segunda-feira, janeiro 31, 2011

marilyn manson - sweet dreams (live)



Cantigas de embalar, a sustentação do medo
E o nevoeiro envolto em bálsamos de inquietação...
Só porque lhe sobra tempo, que o ocupa em pesar
Por pensar que o tempo afugenta o medo
Repete insistentemente estas cantigas de embalar.

sábado, janeiro 29, 2011

De sons se preenche o vazio da noite

Compus a melodia durante a noite.
Tem acordes de pesadelo, ritmos de insónia e violinos desafinados.
Tem sons inaudíveis, perceptíveis só de olhos fechados.
Aguardo pela composição da letra, palavras que me chegam em turbilhão,
Tempestades aflitas de mãos dadas com horizontes distantes.
Perto de mais para ser crente, apenas hologramas que perseguem sombras.
Compus a melodia durante a noite.
Pianos de cinzas, violinos estridentes, em absolvição.
Actos de contricção plasmados em figuras de estilo,
Palavras sussuradas num confessionário privado, um sopro ao de leve na pálpebra que treme.
Aguardo pelas palavras que chegam em turbilhão, vozes estilhaçadas
Neste espaço vazio onde sou acorde sem pauta definida.

quinta-feira, janeiro 27, 2011




Não me surpreende que me fales da noite,
Nem que me tentes ensinar as constelações de cada céu.
Não me importo que reinventes a noite,
Nem que te enganes a contar os anéis de Saturno.
Não me dispenses o teu adormecer,
Nem o comprimido efervescente que se dissolve na tua pele.
Não me cruzes os braços,
Nem que o fio de arame e o corpo vertical...
Não me cubras com lâminas,
Nem com restos perfumados de línguas aveludadas.
Não me fales da noite,
Nem do tempo efervescente,
Não me fales de línguas
Ou de outros pedaços de corpo,
Não me fales de nada,
Apenas de ti.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Cloreto de (s)ódio

Fixo-me no reflexo. Anexo de hospital,
Perplexo sem anexo apenas um apêndice
De ligaduras estranhas, interligações de entranhas,
A garrafa de soro, a alma diluída,
O odor acre do dia, anestesia de mais um estado de ser.

Fixo-me no tecto. Branco sujo, roupagens de nojo,
Tão perto mas tão longe do ângulo recto
O grito obtuso AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH
Analgésicos de agulhas que me iludem
O ter que e não poder... a dor, a crepitação
Do corpo, morto, absorto, mole de espasmos...

Fixo-me no chão. A mão que caminha pelas nódoas
Vómitos de ânsias bolsam em segundos fractais,
Armários que ocultam cadáveres que... em câmara lenta se desfazem em sal...
Sangue arterial, pedaços de ventrículos,
Sangue venoso a alma diluída o soro em ebulição
Crepitação de roupagens de odor acre eu em ti aprisionado no armário...

Fixo-me na água. Do vazio embaciado sem voz
Sem palavras e metáforas, línguas e gargantas
Traqueostomias mal sucedidas e um jorro de nada que se liberta
Em uníssono da traqueia em fogo
Monstro que no mar de saliva se esconde e agora é soro
E alma diluída em escarros embaciados por restos de pouco ou nada e apenas quase...

Fixo-me na imperfeição. Do hoje e do que há-de vir.
O que foi é ventrículo despedaçado, é sangue venoso com falta de sal.

sábado, janeiro 22, 2011



Range os dentes como quem chama por si próprio,

Anula o espaço com o simples gesto de abraço,

Eleva as mãos e sustém as palavras antes do vómito,

Despede-te de si e só depois dos outros,

A breve inspiração começa a ferver no lobo frontal,

O fumo pelos olhos, o ritual e o toque gélido,

Ele e os seus espectros, a sua arte de mãos erguidas.

Criador de tempestades, máscara de relâmpagos,

A perfeita oração neste desfile de mortos vivos.

alma


Quero despir-me deste corpo que me aprisiona,
de tal forma colado ao espírito, sangra cada vez que exorcizo sentimentos em negação.

Fumo o último cigarro do dia, ao som de uma melodia narcótica,

cujo efeito pouco ao nada acrescenta ao momento. Fumo etéreo. Alma expurgada.

Negação em consumo lento.
Misto de inspiração e holocausto.

Cansaço mental, bocejo de tédio e medo do risco.

Não pretendia ser concreto, mas nada mais se liberta das masmorras do intelecto.

Infusão de água benta. Cânticos em enxurrada na distância de um grito em surdina.

Rendido ao solilóquio.

Fica-se a alma em levitação, em infusão, na confusão do líquido com a dissolução do sabor a monotonia. Melodia em repetição.

A preto e branco. Na revelação e na miragem.

A preto e branco. No labirinto da mente.

A preto e branco. Na leveza da reacção química.

A preto e branco. Antologia por escrever.

A preto e branco. Para que a nostalgia faça sentido.

Alma.


(photo by IRA : http://www.saturnineindetails.blogspot.com/)

O bailado dos que pouco ou nada esperam

A imensidão do traço que me contorna
Lascivo e inerte, sem consequência
Na ausência de perspectiva, de substância, de algo mais neutro que o ser-se e...

Deflagra a incerteza de devorar aquele ser
Sem saber que o tempo é cinza
E nela me fundo até aos ossos que me sutentam e...

A história repete-se em palavras inacabadas,
Em parágrafos diluídos por água turva,
Em sinais de pontuação ausentes, só o batimento cardíaco a marcar ritmo,
Inóspito como a melodia da noite que aconchega os intemporais
Vagabundos quais marionetas de cordas rasgadas,
Notas de piano em decadência e só eu e o cigarro
Que me consome no último suspiro da carne neutra em ser-se e não se ser,
Mimetismo corporal em combinações probabilísticas
O bailado dos transeuntes que apressados se atropelam.

Lamentos orvalhares, olhares desencontrados,
O crepitar do tempo em cinzas flutuantes em que me fundo,
Profundo parágrafo sem pontuação, palavras desalinhadas
E um fim em página branca, à espera que o plasma seja a pureza
Do ideal, sonho revelado através de uma qualquer peça
Em que os figurantes se dispersam, comungando da solidão da orquestra
Que cospe acordes de saliva envenenada.

http://jilltracy.bandcamp.com/track/under-the-fate-of-the-blue-moon