Hemorragia
Sou o rio de sangue que te banha as margens virgens,
Aquele líquido de cor forte que se atenua com o tempo.
Um arco-íris de olhos perfaz um arco labial,
Sobre um tal rio celular cuja biologia oculta mistério.
A queda de água, o sangue que jorra audácia,
Uma matriz de lodo que prende os sedimentos de uma vida.
Sou o rio de sangue, cujo caudal celular oculta augúrio,
Diz-se nas margens que os seus afluentes são as veias e as artérias
Daqueles cujos corações se esgotaram por tanto bater,
Um batimento sem eco, sem resposta do outro lado do vidro baço
Que os enevoa na solidão… sou o rio de sangue que te acompanha
Numa marcha sem nexo, sem brado, sem música de fundo.
O banho madrugador, uma enchente de corpo e horror,
O momento em que paro a corrente, para que te diluas no sangue
E me concedas a graça de te envolver, de te animar no mais pequeno poro de vida.
Sou o rio de sangue que se desfez numa recordação póstuma
Como a força que me impele a escrever. Uma escrita de sangue seco,
Numa crosta de papel ressequido que arde sem compaixão.
Sou o rio de sangue que te banha as margens virgens,
Onde as flores morrem com o veneno que te vou devolvendo.
08.02.06
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