Não se deixou impressionar pela madrugada de aço que lhe paralisava as pernas. Julgou ser aquele peso brutal que lhe vinha de cima, sem um destino traçado à partida. Como aqueles errantes do amanhecer que se cruzam com o último aceno da estrela da manhã e se desviam para não se queimar pelos primeiros raios de sol. Solilóquio orvalhar, preso pelo lábio inferior e soletrado através dos espaços entre os dentes. Desse mesmo escárnio pautado pelo batimento harmonioso do ciclo vital, em círculos imperfeitos, esborratados com o sangue que jorra invisível. Aponta unhas ao sol, as que cospe pelos espaços entre os dentes. Desfaz-se em sílabas atónas e presenteia-se com a dor da sua junção. A cada pestanejar, um círculo… a cada silêncio, um mar envolto em fúria… a cada gota de saliva, o amor em estado líquido…
01.03.2007
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