sexta-feira, março 02, 2007

On some gentle dawn

Não se deixou impressionar pela madrugada de aço que lhe paralisava as pernas. Julgou ser aquele peso brutal que lhe vinha de cima, sem um destino traçado à partida. Como aqueles errantes do amanhecer que se cruzam com o último aceno da estrela da manhã e se desviam para não se queimar pelos primeiros raios de sol. Solilóquio orvalhar, preso pelo lábio inferior e soletrado através dos espaços entre os dentes. Desse mesmo escárnio pautado pelo batimento harmonioso do ciclo vital, em círculos imperfeitos, esborratados com o sangue que jorra invisível. Aponta unhas ao sol, as que cospe pelos espaços entre os dentes. Desfaz-se em sílabas atónas e presenteia-se com a dor da sua junção. A cada pestanejar, um círculo… a cada silêncio, um mar envolto em fúria… a cada gota de saliva, o amor em estado líquido…

01.03.2007

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