terça-feira, maio 22, 2007

Corvo

O espectro reminiscente eleva-se na brisa crepuscular
Numa dança sem sentido, ritmo destroçado
Pela mágoa de se perder no nada,
Irreal falácia intemporal de ser
O que se preludia num momento fugaz de credibilidade
Só concebida aos meus olhos…

Se pelo menos conseguisse ver o que é suposto
Ou pelo menos indagar pelas formas inócuas
Que te preenchem; mas não quis supor
Que te perdia nas mãos da sombra,
Porque te sentia todos as noites antes do sono me levar,
Aquele beijo imaginado, um suspiro vão…

A criança solta-se da inocência,
A essência de ser e a vontade de procura,
O sentido da caminhada e o percurso perdido
Em suposições, em areias movediças,
Que me aprisionam as lembranças, as vontades, os desejos…
Abro alas ao sonho que se pode ter…

01.09.05

sexta-feira, maio 04, 2007

FUMO


Sou do fumo dos corpos que ardem

Os estalidos virgens das articulações.

Nas vísceras multiplicam-se olhares vorazes,

Na indiferença de quem passa.


Sou do pó das cinzas que repousam

Os olhos cegos de poeira.

Sou do cigarro que se consome

Da célula infectada e do ventre proibido.


Sou do insecto

O bater de asas confunde-se

Com o ruído da solidão.


O fumo que sai negro.

Uma brasa que teima em não se apagar.


O último afago à terra

E a última poeira que me cai nos olhos.

É um adeus que se esfuma.


24.01.06