domingo, novembro 29, 2009

Chove lá fora, mas chove mais cá dentro,
Inundo-me de sentimentos, enquanto as razões se diluem...
À espera que me afogue, no próprio suspiro inconsequente
E assumo a inércia do devir e do amanhã que não me responde....
Faz frio lá fora, mas o degelo do coração não é tema de conversa,
Alterações climáticas dependentes de emoções a larga escala...
O calor artificial de um solstício de faz-de-conta,
Um gole em seco e um cigarro a queimar os lábios gretados à espera dos teus...
Faz frio cá dentro, enquanto chove lá fora,
As amarguras da solidão, corpos numa dança frenética de humilhação,
As recordações a arder, quentura artificial para que não pare de bater,
Aquele coração em arritmia, ainda humano, corpo cavernoso labirinto de escuridão.

segunda-feira, novembro 23, 2009

Despertas os meus instintos básicos, sequioso por te ter.
A sala de cinema deserta, sem luz, a escorrer o vazio
E dou por mim, distante do filme que passa...
É-me indiferente...
Tacteio pelo filme que insistentemente me surge em pensamento,
Aquele que escrevi guiado pela tua mão,
Em montagens desprovidas de saliva, despeço-me do tempo.
Ante a contemplação onírica cresço em desejo, por antecipação,
Num piano descompassado a gritar que o sustenham e...
Sem perder quem me guia, cedo, em falsas memórias e reconstruções pragmáticas para...
Que o tempo se despeça e me torne a amargura de mais uma gota de soro.
Corróis os meus instintos básicos, vazio por te ter.
Taquicardia sufocada por um ritmo cardíaco plagiado.
Epílogo a conta gotas... transpiro tinta vermelha... soletra-me em notas de piano.

segunda-feira, novembro 16, 2009

Enquanto me entretenho num monólogo tempestuoso
A cinza marca um compasso estranho,
As palavras prendem-se no musgo que me cobre os olhos.
É o sentimento inócuo de quem vagueia pelo desconhecido
E se admira pela transparência da noite.
Suscita-me prazer, sem se esgotar num sopro lácteo e monótono...
Escutaste o meu adormecer?
Soubeste decifrar o código em vapor de água?
Colocas questões para as quais não há definição.
E detenho-me nesse monólogo insípido, como na primeira vez,
De bilhete na mão, na espera não sei bem de quê...

sexta-feira, novembro 13, 2009

Silenciei a silaba tónica em que te exprimes.
Soube contornar aquele movimento perene que te preenche.
A frase incompleta, o verbo conjugado num tempo imperfeito
E o sujeito a esmorecer enquanto aguarda por um discurso que lhe seja indirecto.
Espantas-me assim, sussurra aquela voz que nunca se exprime,
Pedes-me um tempo falacioso, liberta-se o murmúrio que tentas suster.
Já não resistes ao susto.
De me rever num paradoxo.
Enquanto sustenho o travão, o fluxo soluça e turva-me a língua.

quarta-feira, novembro 11, 2009

Era suposto dedicar-te a última página,
Escrever o teu nome nas entrelinhas
Como quem começa a aprender a andar.
Apenas me detive antes de o compor,
Aquele verso ácido que corroí a cada segundo de tinta pausado.
Não te inquietes por te pensar, por te decompor em sílabas,
A soletrar revejo-te, por entre espelhos de água e moléculas de reflexões.
Era suposto. Não passas de suposição. De presunção.
De movimentos pulmonares em esforço.
Mas continuo a contemplar, a centrifugação do teu corpo.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Penso-te em demasia.
Espremo-te como quem rasga a pele.
Faço uma pausa. Inspiro.
Hoje visto a pele casual, coloco a máscara do dia.
Não te conheço e tu desconheces-me, a chuva apaga o rasto.

sábado, novembro 07, 2009

Devoro cada pedaço de tristeza que me invade o pensamento.
E é nesse momento que me inspiro, num sopro ácido.
Talvez seja o fumo que me impede a visão do alcance,
Esperei pela tua palavra e não vieste...

terça-feira, novembro 03, 2009

Introspecção breve

Provo do chá.
E percorro-te através das linhas das mãos.
O teu toque é visceral.
E pressinto o fumo, estranho sabor a menta.
Provo do ar.
Aquele que rejeitas inspirar.
Tal e qual o toque...

A manhã embala-me a inquietação.
E engano a fome com um pedaço de sono.
É assim que me rasgo, em pedaços de papel.
É assim que me devoro, em frases desconexas.
É assim que me escrevo, em dilúvio de tinta.
É assim que me entrego, despido de emoções, na tua metamorfose.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Equação do vazio

Desmontei-me. Em pedaços.
Estilhaços que não se arrumam no sótão varrido pelos ventos da angústia.
Desfiz-me. Em água tingida.
Afluentes da luz sombria do ocaso.
Porque continuo a vaguear sem cálculo, a aritmética da dor não se prevê nas minhas equações.
Perdi-me no momento em que me estilhaçaste num movimento ténue de lápis por afiar.
Os contornos não se agudizam em pontos comuns de saliva.
Despedacei-me. Em montagens de filtros distorcidos.
A imagem projectada em ecrãs de pele.
Os poros pontuam a língua que me cobre.
Os espinhos roçam a carne. Pérfida de saudosismo.
O nevoeiro no epicentro do olhar e o filme, em câmara lenta... tento alcançar-me...
Os retalhos de azedume e o equilíbrio de húmus a manter-me na marcha lenta...
Desfiz-me. Quando o que cruzaste me embateu no sopro breve da tiróide.
Sangro-me contra o espelho. Não me revejo no desenho a lápis por afiar.
Demasiado carregado para me recortar sem sair do ponteado.
Pinta-me. Às cores. As cores em que me imaginas, em que me realizas e me desfazes.
A saliva escasseia. Onde se localiza o epicentro deste tremor?
São dedos de carvão os que tocam.
Monóxido de carbono num dialecto que se metamorfoseia.
Inspiro-me. Intoxico-me sem máscara de gás no momento da própria contemplação.
A ti. A saudade.
Em mim. O covil soturno preenchido pelo vazio.