segunda-feira, novembro 02, 2009

Equação do vazio

Desmontei-me. Em pedaços.
Estilhaços que não se arrumam no sótão varrido pelos ventos da angústia.
Desfiz-me. Em água tingida.
Afluentes da luz sombria do ocaso.
Porque continuo a vaguear sem cálculo, a aritmética da dor não se prevê nas minhas equações.
Perdi-me no momento em que me estilhaçaste num movimento ténue de lápis por afiar.
Os contornos não se agudizam em pontos comuns de saliva.
Despedacei-me. Em montagens de filtros distorcidos.
A imagem projectada em ecrãs de pele.
Os poros pontuam a língua que me cobre.
Os espinhos roçam a carne. Pérfida de saudosismo.
O nevoeiro no epicentro do olhar e o filme, em câmara lenta... tento alcançar-me...
Os retalhos de azedume e o equilíbrio de húmus a manter-me na marcha lenta...
Desfiz-me. Quando o que cruzaste me embateu no sopro breve da tiróide.
Sangro-me contra o espelho. Não me revejo no desenho a lápis por afiar.
Demasiado carregado para me recortar sem sair do ponteado.
Pinta-me. Às cores. As cores em que me imaginas, em que me realizas e me desfazes.
A saliva escasseia. Onde se localiza o epicentro deste tremor?
São dedos de carvão os que tocam.
Monóxido de carbono num dialecto que se metamorfoseia.
Inspiro-me. Intoxico-me sem máscara de gás no momento da própria contemplação.
A ti. A saudade.
Em mim. O covil soturno preenchido pelo vazio.

Sem comentários: