sábado, dezembro 30, 2006

Acordei com a vontade insistente de me envenar com o meu próprio sangue

O sabor a sangue

A manhã estava salpicada pelo negrume dos teus cabelos,
Uma pele orvalhar que se estendia sob os meus passos.
Ao de leve, a brisa dava-me as boas vindas, num afago
E ao longe o horizonte permanecia imóvel a cada momento meu.
Seria um augúrio de morte, ou apenas de saudade,
Um sismo em pausa ou apenas um retrato etéreo esquecido no cimo do monte…
A tarde adiava livrar-se desse negrume capilar,
Mas num súbito tremor, o sangue jorrou da fenda da tua face,
Num segundo que permanecia não findar, tu a esvaíres-te,
Eu num desmaio retardado pela súplica de ajuda. Estendo a mão,
Flácida no degelo da manhã que se dissipa do retrato que parecia inalterável.
Do horizonte chegam uivos, trazidos pela brisa que não acalma,
Uma bofetada, uma fenda corrompida pela saudade.
E a noite que se aproxima, a mancha de sangue que aumenta a cada suspiro,
A agonia de escutar, longe deste tempo que me aprisionou. Cada lacrimejar.
Cada soluçar. Cada pulsação a cada verso de sangue. E é a noite que o traz.
Aquele cheiro a morte, disfarçado pelo odor a rosas murchas, a saudade dos que ficam,
Um caminho traçado para que não se percam na caminhada para a paz.
Um cheiro fétido a saudade. Um remoer de vozes encarquilhadas pelo tempo.
Sou figura de terra, broto do chão que me há-de acolher. Rebolo no sangue,
Deixo-me envolver no novelo negro dos teus cabelos. Outrora o horizonte,
Hoje o húmus e a vida que me consome. Sou dos anjos, do sopro e do murmúrio.
Amanhã exulto-me em cânticos, em delírios e em sonolência. Um beijo na face e o Sabor ao teu sangue guardado para sempre nas fendas dos meus lábios.

22.02.06

1 comentário:

Anónimo disse...

The beauty of terror... :)