quarta-feira, fevereiro 28, 2007

I'm your lover, I'm your zero

Nulidade

Anularam-me.
Colocaram-me à esquerda, como um zero.
Uma presença assinalada. De caco.
Tal a apatia que se estala por dentro.
Anularam-me.
Colocaram-me ao frio, sem vestes.
Uma criatura assassinada. Morta.
Dedos que apontam como punhais.

Nulo. Percorro mãos.
O refúgio pantanoso da escuridão recebe-me, em pranto.
O mar. Nulo na sua revolta.
E o crepúsculo em pausa para que me reveja.

Só o vislumbre é de jade,
Nem o canto perdura para lá do muro.
A alma revolve-se, em tormento…
Eu e somente eu, entregue ao pudor,
Madrugada de nulidade.

O crepúsculo permanece pausado.
Para que me revele. E só então se anula. Na tangente horizonte.
Anseio a noite. Com ela a madrugada. A nulidade de mim em mim,
De nós em nós, deles em nós, deles em mim…
Como se a terra fosse um mar imenso. E água me afogasse.

Colocaram-me à esquerda.
A direita é para o filho.
É aqui que me anulo. Na sombra dele. Na pausa do silêncio.
Percorro mãos e aponto punhais.
Com a bênção da madrugada.
Sou nulidade. Na revelação da espera.

10.03.06

1 comentário:

Anónimo disse...

Breathtaking... está lindo, Carlos.

Ira]