quarta-feira, fevereiro 23, 2011

(Há rios que não desaguam no mar...)


(Há rios que não desaguam no mar...)

Num gesto cirúrgico o corte da parte inerte, ligeiramente do teu lado esquerdo.

Naquele lugar flores de arame.


(Há rios que não desaguam no mar...)

Não só ampulhetas, mas agulhas e fios de nylon.

Não peças que te cresçam asas.


(Há rios que não desaguam no mar...)

Húmus, não amores plagiados e relógios de corda.

Nesse lugar cisnes negros embalsamados.


(Há rios que não desaguam no mar...)

Não esperes que te cresçam asas,

Mas dedos de arame e unhas roídas.


(Há rios que não desaguam no mar...)

São espaços que não se preenchem,

Mas cantos de cisnes negros quando degolados.


(Há rios que não desaguam no mar...)

No espaço que nos separa, apenas

Vestígios da noite de ontem.


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