terça-feira, fevereiro 08, 2011

Solilóquio em câmara lenta

Se tivesse que descrever o percurso do rio que em mim desagua não me chegava o conjunto de afluentes que me inundam. Insistentemente me afundava na tentativa de suster a respiração que volta sem rumo certo. Tais remoínhos de água turva em capítulos que repetem escritos e fluidos poluídos. A libertação do recluso com pele ás riscas lâminas com ferrugem e vestígios de heresias que nem ouso dactilografar. Sem saber que aquilo que me descreve é uma sombria tentativa de aprisionamento numa qualquer sala de autópsias mentais do género dos filmes de terror. Se tivesse que expor por palavras o que me impele a sentir escorregava em cada acordo ortográfico na queda no rio que desagua num mar deserto e gélido sem qualquer horizonte em vista. A melodia das ondas disforme pelos sussurros do vento que se avizinha tumultuoso. Faz frio cá dentro neste momento em que as aves de rapina levantam voo e se escondem da luz. Soubesse eu descrever-me em simples apontamentos dos que evocam em páginas brancas e em cadernos de registo para que a memória não me atraiçoe e me faça crer que afinal tudo não passa de um qualquer conto assinado por um alguém que nem ouso conhecer.

2 comentários:

Ira disse...

Não pares de escrever. Escreves por ti e por outros. Revejo-me nas tuas palavras ;)Thanx

black swan disse...

Thank you ;)